domingo, 3 de dezembro de 2017

Ah! Esses meninos! Ah! Essas meninas!

16 anos, negro, nordestino: Pedro Gorki é o novo presidente da UBES. Congresso da maior entidade estudantil secundarista do Brasil terminou neste sábado (2) em Goiânia

Para homenagear esses meninos e essas meninas nada melhor do que o texto maravilhoso de Joan Edesson de Oliveira, publicado originalmente no Portal Vermelho, http://www.vermelho.org.br/ e reproduzida no site Conversa Afiada. Remontagem fotográfica do Blog Sarrafo Atômico com fotos de Nilmar Lage, Léo Souza e Gui Silva - UBES e redes sociais.

Quem são esses meninos, quem são essas meninas  que chamam pela aurora, acendendo as manhãs?

Ah! Esses meninos. Ah! Essas meninas.

Por Joan Edesson de Oliveira

Espalham-se pelas ruas, pelas escolas, pelas universidades. Não se contentam mais em  esperar pelo amanhã, não querem apenas, como deles dizia Máximo Gorki, ter a face do amanhã. Tem sede de hoje, estão famintos pelo agora.

Quem são esses meninos, que ocupam o Brasil, que transbordam em sua juventude e em sua rebeldia, que não podem mais ser escondidos, por mais que tentem? São herdeiros de outros meninos, em lugares e em tempos tantos da nossa história.

São herdeiros daquele menino baiano Antonio de Castro Alves, abolicionista e republicano, voz tão poderosa a pregar aos séculos que “toda noite tem auroras” e a dizer aos moços como ele que “não tarda a aurora da redenção”.


Descendem eles do menino alagoano Zumbi, que imberbe ainda comandou homens e sonhou a liberdade.

Quem são essas meninas, buliçosas e de olhar vivo, que transpiram beleza e coragem, que erguem a voz doce e firme em tribunas hostis, obrigando velhos conservadores a desviar o olhar, envergonhados e derrotados,  por mais que se vistam de vencedores?


São descendentes diretas daquela menina Anita Garibaldi, que aos dezoito anos fazia guerra e amor, incendiando o sul do Brasil com a chama da liberdade. Elas vêm da baiana Maria Quitéria, pondo em fuga o opressor português. Vêm de outra baiana, Maria Bonita, que aos vinte anos armou a ternura e alou-se em lenda na caatinga sertaneja.

Por que despertam tanto ódio nas elites, por que são tão atacados?

Não são um exército com tanques, mísseis, fuzis. Não são uma força estrangeira a nos invadir. Qual o perigo que representam, então? Por que jornais e emissoras de TV se empenham tanto em atacá-los?

 

Por que representantes de um governo ilegítimo, velho, machista e misógeno, atacam com tal força essas meninas que discursam? Por que recrutam milícias que parecem integralistas saídos de um mofado livro de história para atacar esses jovens?

É que esses meninos, essas meninas, riso solto e gargalhada livre, são uma grande ameaça. Os alicerces desse edifício secular das classes dominantes tremem ante o riso deles, temem a sua gargalhada.

Mas, acima de tudo, o que causa temor são os sonhos desses meninos e meninas. Sim, eles sonham. Sonham com educação de qualidade, sonham com justiça, sonham com uma polícia que não seja executora da juventude, sonham com um Brasil novo e têm a pura e justa certeza de que  novo sempre vem.


É por isso que eles são tão perigosos. É por isso que há jornalistas vendidos que os atacam. É por isso que há promotores de justiça que ordenam que eles sejam algemados. É por isso que há juízes que autorizam e recomendam o uso de técnicas de tortura contra eles.  É por isso que há policiais prontos a bater, a socar, a prender.

Porque esses meninos e essas meninas são perigosos, porque eles agarraram o futuro com as mãos e querem que o futuro seja aqui e agora, e não num tempo que nunca chega. Esses meninos são perigosos porque eles podem colocar o mundo de ponta cabeça, e de virá-lo em festa, trabalho e pão, como sonhou o poeta.

E esses meninos e essas meninas estão armados. Suas armas são as ideias que carregam, são o verbo que corta, a voz que inflama. Estão armados, eles. Trazem consigo a arma mais poderosa que há. Como em Pessoa, trazem em si todos os sonhos do mundo.

Parece que saíram de algum poema, esses meninos, essas meninas. Parecem que saíram de algum poema, para em tempos de tanta escuridão, de noite tão comprida, correrem pelas esquinas do Brasil, chamando pela aurora, acendendo as manhãs.

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